Na maioria dos dispositivos eletrônicos, um "reset" consiste em cortar o fornecimento de energia através de um botão (ou remoção das baterias), o que faz com que o conteúdo da memória RAM se apague e um novo processo de boot tenha início, com o carregamento do firmware e as demais etapas envolvidas.

No caso dos PCs também já foi assim. Na época dos micros 486 e Pentium e das fontes AT, os cabos de energia passavam diretamente pela chave liga/desliga, e quando desligado o PC realmente ficava "morto", dependendo unicamente da bateria do CMOS para manter o relógio do CMOS e conservar as configurações do setup. A chave liga/desliga era uma simples chave de duas posições, assim como um interruptor de luz, o que resultava em um problema: não existia nenhuma forma de desligar o PC via software. Mesmo depois de finalizar o sistema, você ficava parado no "Seu computador pode ser desligado com segurança" do Windows ou no "Power Off" no Linux e ainda tinha o trabalho de desligar a energia pressionando o botão.


A introdução das fontes ATX e de outras evoluções que tivemos nas duas últimas décadas, ganhamos a possibilidade de desligar ou reiniciar o PC via software, bem como de ligá-lo através da rede com o Wake-on-LAN, mas em compensação o processo se tornou um pouco mais complexo.

Para começar, um PC atual nunca fica realmente desligado. Enquanto ele estiver ligado na tomada, ou na bateria, a placa mãe continua recebendo energia e permanece em um estado de stand-by, a postos para executar comandos. Quando o botão de ligar é pressionado, o BIOS recebe o comando e inicia o processo de boot. Similarmente, quando você usa a função de reiniciar, tudo é feito através de diferentes instruções, sem que o PC seja realmente desligado em momento algum. Este sistema é chamado de "soft power", em oposição ao "hard power" das fontes AT.

Dois dos pinos da fonte são responsáveis por fornecer continuamente uma tensão de 5 volts para a placa mãe, mesmo quando o PC está desligado. Examinando o manual da fonte, você vai encontrar referências ao "5V standby" ou +5VSB, que é exatamente o pino responsável pelo positivo. Graças a isso, a bateria do CMOS perdeu muito de sua importância, já que ela é efetivamente usada apenas quando o PC é realmente desligado da tomada.


Embora responda por apenas 1 ampere, ou até menos, o fornecimento do 5V standby é suficiente para manter alguns circuitos da placa-mãe e da placa de rede ativos, permitindo que o PC seja ligado ao pressionar o botão liga/desliga (que hoje em dia é ligado na placa-mãe e não mais diretamente na energia) e que a placa de rede possa acordar o PC caso o Wake-On-LAN seja usado. Na maioria das placas mãe, existe também a possibilidade de ligar ou acordar o PC através do teclado, ou mesmo configurá-lo para ligar-se sozinho em um horário programado, o que novamente é possível apenas devido ao 5V standby.

Além dele, temos mais dois pinos na fonte responsáveis por funções especiais. O primeiro é o PS_ON, que permite que a fonte seja ligada pela placa-mãe. Quando você pressiona o botão liga/desliga, o BIOS da placa mãe processa o sinal e depois de fazer algumas checagens básicas, ativa o fonte através do pino PS_ON, o que faz com que os demais circuitos da fonte entrem em atividade, o exaustor seja ligado e assim por diante.

Se você olhar o conector da fonte na horizontal, com o pino de encaixe virado para baixo, o PS_ON corresponde ao quarto pino da linha de baixo, contando da direita para a esquerda (fio verde). As fontes atuais utilizam conectores de 24 pinos, onde os 4 pinos adicionais estão posicionados à esquerda e não alteram a posição dos demais.

Você pode fazer um teste usando uma fonte desconectada do PC. Use um pedaço de fio com as duas pontas descascadas (dobrado em U) para fechar um circuito entre o fio verde e o fio preto ao lado (o quinto da direita para a esquerda). Ao fechar o circuito, a fonte liga imediatamente e ao desconectá-lo ela é desligada. Este é um teste básico para ver se uma fonte ATX está funcionando e que pode ser usado para monitorar as tensões usando um multímetro sem precisar ligá-la a um PC.


Como a fonte precisa de um curto espaço de tempo para carregar os capacitores e estabilizar as tensões de saída, mais um pino (o Power Supply Ready, ou PS_RDY) é usado para sinalizar à placa-mãe quando ela pode efetivamente começar a usar a energia. Isso evita os solavancos a que os antigos PCs com fontes AT eram submetidos durante o boot, aumentando a vida útil do equipamento.

Além dos estágios ligado e desligado, temos vários estágios intermediários, onde parte dos componentes ficam ativos. Estes estágios são usados quando o PC está dormindo e são controlados através do ACPI, suportado por todos os sistemas operacionais modernos. O estágio em que o PC está ligado e funcionando é chamado de G0, enquanto o estágio em que ele está desligado (soft-off) é chamado de G2. Entre os dois temos o G1, composto de 4 sub-estágios usados quando o PC está dormindo ou hibernando.

O primeiro é o S1, onde tanto a memória RAM (e outros componentes, tais como o controlador do teclado) quanto o processador continuam ativos. Embora nesse estágio o processador fique ocioso, sem processar instruções, ele continua consumindo uma boa dose de energia, o que faz com que ele seja usado apenas em alguns PCs antigos.

O S2 é um estágio intermediário, onde o processador é desligado, mas alguns outros componentes continuam ativos (bem como a memória RAM), enquanto o S3 é o estágio usado atualmente, onde apenas a memória RAM e os componentes que podem acordar o PC (como o teclado e a placa de rede) ficam ativos, reduzindo ao máximo o consumo elétrico.

Finalmente temos o S4, que corresponde ao estágio de hibernação, onde o conteúdo da memória RAM é copiado para o HD e o PC é desligado. Na prática, o S4 é idêntico ao G2 (o PC fica completamente desligado, com exceção do 5V standby), a única diferença é que a cópia da RAM para o HD permite que o sistema operacional retorne no ponto onde parou, sem que seja necessário um novo boot.

Quando você usa o "dormir", o sistema operacional realiza um conjunto de tarefas necessárias (tais como salvar o status de diversos componentes de hardware, interrupções e assim por diante) e em seguida enviar ao BIOS ou chip EFI o sinal para que o PC seja colocado em modo G1 S3. Ao usar o "hibernar" o processo é similar, com o sistema executando os mesmos passos do dormir, com a exceção de que agora o conteúdo da memória RAM é também copiado para o HD e o PC é chaveado para o estágio G1 S4.

Quando a opção de reiniciar é usada, o sistema executa o processo completo de desligamento, incluindo salvar arquivos e fechar aplicativos, encerrar as conexões de rede, limpar os caches, desmontar as partições e assim por diante e no final do processo envia o comando de reset ao BIOS/EFI, que por sua vez executa o processo de reset de todos os barramentos e periféricos, limpa o conteúdo da memória RAM e ativa o pino de reset do processador (no caso dos Core i7 baseados no Bloomfield, por exemplo, é usado o pino AL39), que faz com que todos os caches e registradores sejam limpos e ele volte ao estágio inicial, como quando o PC é ligado. Na prática, este conjunto de operações tem um resultado quase idêntico ao desligar e ligar o PC, mas na prática podem existir situações em que alguma das etapas falha e alguma anomalia sobreviva ao reset, lhe obrigando a realmente desligar o micro.

Um computador atual é na realidade composto por diversos outros computadores (os controladores incluídos nos diversos dispositivos), e até mesmo por computadores que são formados por outros computadores independentes, como o chipset da placa-mãe e a GPU. Cada um destes chips possui seu próprio pino de reset, que quando ativado faz com que eles sejam reiniciados.

Fonte : Guia do Hardware

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