No início do milênio, tivemos a briga entre o Symbian e o Windows Mobile pela supremacia em uma nova categoria de dispositivos que começava a se tornar popular: a dos smartphones.

O Windows Mobile adotava uma interface baseada no uso da Stylus, o que favorecia o uso de telas maiores, com a maioria dos aparelhos oferecendo telas de 3" ou 3.5", enquanto o Symbian era baseado no uso de botões de navegação, o que permitia o uso de telas menores. Inicialmente, o Windows Mobile saiu na frente e muitos aparelhos passaram a oferecer telas grandes, mas logo o Symbian tomou a dianteira e os padrões de usabilidade da Nokia, voltados para o uso dos aparelhos usando uma só mão passaram a ditar os rumos do mercado, favorecendo o lançamento de aparelhos menores, com telas de apenas 2.2" ou 2.4".


Mesmo a Microsoft deu o braço a torcer, lançando o Windows Mobile Standard, que também oferecia uma interface otimizada para o uso com o direcional (sem touch-screen) e otimizado para aparelhos com telas menores. Os fabricantes passaram então a seguir a tendência ditada pela Nokia, com telas pequenas combinadas com teclados e direcionais:


Estes aparelhos ofereciam uma vantagem que permanece mesmo em relação aos modelos high-end atuais, que é a facilidade de acessar funções básicas do telefone, como encontrar um número na agenda, adicionar compromissos, discar e finalizar ligações ou mesmo responder mensagens de texto, já que você podia fazer tudo usando uma mão só enquanto caminhava ou fazia outras coisas e, (com um pouco de prática) até mesmo sem olhar diretamente para o aparelho, especialente nos com teclado numérico.

Por outro lado, estes aparelhos eram extremamente limitados em relação à navegação na web, jogos e multimídia e os próprios aplicativos disponíveis para eles eram bastante limitados dentro do padrão atual. A resposta veio com o iPhone e com o Android, que passaram a oferecer interfaces otimizadas para o toque e telas capacitivas, o que fez com que o tamanho das telas passasse a aumentar rapidamente.

A tela de 3.5" do iPhone original parece pequena para o padrão atual, mas era gigantesca se comparada a outros aparelhos da época em que ele foi lançado. A tela maior possibilitou não apenas que a Apple conseguisse emplacar uma interface touch otimizável com os dedos, sem demandar uma caneta stylus, mas também permitiu que o telefone oferecesse uma navegação web e acesso a mapas de forma muito mais confortável que outros aparelhos da época. Mesmo caro e limitado (sem loja de aplicativos e nem suporte a 3G) o iPhone original acabou sendo um estrondoso sucesso devido a essa combinação de fatores.


Quando o Google decidiu entrar no páreo, foram obrigados a escolher entre o modelo de teclado e direcional do Symbian e o modelo touch do iPhone. De fato, os primeiros protótipos mostram como o Google esteve perigosamente próximo de escolher a primeira opção, o que faria com que a história do Android fosse muito diferente:


Entretanto, a concorrência da Apple fez com que a preferência dos fabricantes se voltasse para os aparelhos com telas maiores, o que nos leva de volta ao cenário atual. Android com telas menores e teclados também se tornaram comuns, mas eles ficaram relegados ao mercado de baixo custo, onde a principal é reduzir o custo dos componentes. Entre os aparelhos mais desejados, mesmo os teclados deslizantes passaram a se tornar cada vez mais raros e as telas foram crescendo cada vez mais, indo dos 3.5" para os 4.0" e em seguida para os 4.3", 4.8" ou mesmo 5.3", como no Galaxy Note.


Um bom indício de como estes grandalhões caíram no gosto do público é a evolução da linha Galaxy da Samsung. A Samsung demorou quase um ano para vender 10 milhões de unidades do Galaxy S I9000. O Galaxy S II, que trouxe uma tela maior, vendeu 10 milhões em 4 meses, enquanto o Galaxy S III, com uma tela maior ainda, já vendeu 10 milhões de unidades em menos de 2 meses!

A demanda por aparelhos com telas maiores pode ser facilmente explicada: telas grandes, especialmente as telas 720p encontradas em muitos aparelhos da safra atual são muito confortáveis para navegar na web e tornam o uso dos teclados on-screen menos sofrível. Uma tela de 4.65" como a do Galaxy Nexus, por exemplo, já começa a ser um meio mais confortável de digitação que os teclados físicos de muitos aparelhos da geração anterior, como o velho Milestone 1, por exemplo, já que a distância entre as teclas permite que você digite com poucos erros de digitação e o fato de o vidro ão oferecer resistência, combinado com as funções de correção, long-press para teclas acentuadas, etc. começam a fazer com que o teclado virtual leve vantagem.

Outra área em que as telas grandes se sobressaem são nos jogos, já que com praticamente todos os títulos adotando controles on-screen, seus dedos acabam ocupando uma área proporcionalmente muito grande em aparelhos com telas de 3.5" ou menos, prejudicando a visibilidade do jogo. Além disso, telas maiores permitem que o espaço entre os botões virtuais seja maior, tornando os controles mais confortáveis:


Finalmente, temos a questão dos tablets. Não resta dúvidas de que os tablets caíram no gosto do público e com opções de qualidade a preços acessíveis, como no caso do Nexus 7, eles tendem a continuarem a crescer. A grande questão é que carregar um tablet pra cima e pra baixo é desconfortável, principalmente por que você precisa carregar também um telefone. Smartphones com telas grandes permitem executar a maior parte das tarefas que você faria em um tablet, permitindo que você continue a carregar apenas um aparelho. Este é um dos grandes fatores por trás da popularidade do Galaxy Note, por exemplo.


Mesmo a Apple, uma das defensoras ferrenhas da usabilidade com apenas uma das mãos está dando o braço a torcer com o iPhone 5, aumentando um pouco o tamanho da tela para que o aparelho se torne mais competitivo em relação a jogos, multimídia e navegação web. As especificações ainda não foram confirmadas, mas os boatos mais críveis apontam para um aparelho com tela de 4.0", com um bezel mais fino, seguindo a tendência inaugurada pelo Galaxy S III

Entretanto, esta popularização dos aparelhos grandalhões tem também as suas desvantagens. A primeira é que com o gosto do público nos aparelhos grandes, quem procura um aparelho de dimensões mais sanas que ofereça boas especificações acaba ficando sem opções, tendo que escolher entre algum modelo mid-range como o Defy Mb526 ou um iPhone. Simplesmente não existem modelos Android high-end com telas menores, na casa dos 3.5" a 3.7". Atualmente todos estão vindo com telas de 4.3" ou mais.

Outra questão é que aparelhos tão grandes são impossíveis de usar com apenas uma das mãos. Você precisa parar o que está fazendo e usar ambas as mãos, olhando para o aparelho para fazer mesmo as tarefas mais simples, como atender a uma ligação. Este é um ponto em particular em que os smartphones em geral regrediram desde a época do Symbian. Além disso, ver alguém fazendo chamadas de voz em aparelhos realmente grandes, como o Galaxy Note, é uma visão realmente estranha:



Com uma tela maior, itens da interface que costumavam ficar próximos uns dos outros e facilmente acessíveis começam a ficar muito distantes, tornando o uso menos confortável em algumas situações. A corrida por colocar novos aparelhos no mercado também tem feito com que os fabricantes não testem adequadamente suas personalizações de interface, acentuando o problema.

Finalmente, temos a questão da resistência mecânica. Reduzindo a largura do bezel em torno da tela e produzindo aparelhos cada vez mais finos e leves, os fabricantes acabam colocando aparelhos cada vez mais frágeis no mercado, que em muitos casos não resistem a uma boa queda sem apresentarem defeitos terminais, como telas quebradas, sem falar de uma irritante sensação de que o aparelho pode envergar se você torcê-lo apenas um pouco, como temos no caso do Galaxy S III, por exemplo, que se destaca pelas especificações, mas apresenta uma construção criticada por muitos.

A fragilidade dos aparelhos torna o uso de capas protetoras quase que uma necessidade, o que faz com que eles fiquem ainda maiores e menos confortáveis de se carregar.

Em resumo, aparelhos grandes são excelentes para consumo de mídia, jogos e navegação web. Entretanto, quem usa o telefone principalmente para mensagens e chamadas telefônicas acaba sendo melhor atendido por modelos com telas menores, que oferecem teclados QWERTY e são mais fáceis de carregar e ainda podem ser usados com apenas uma das mãos. O grande problema é que quem opta por eles tem ficado cada vez mais restrito em suas opções.


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