Se hoje você pode passar horas na internet, é graças, em parte, a uma imensa rede de cabos de transmissão de dados – que percorre países e oceanos.
Essenciais para o funcionamento da internet no mundo todo, esses cabos são reforçados para suportar pressões altíssimas no fundo da terra ou mesmo do mar.
Camadas de aço, polímeros e cobre altamente resistentes protegem pequenas fibras pelas quais corre uma respeitável quantidade de informações.
Mapa dos cabos submarinos pelo mundo |
Um pouco de História:
A invenção da telegrafia por Samuel Morse em 1843 incentivou a ideia de serem lançados cabos atravessando o Atlântico para utilizar a nova tecnologia. Em 1730 o norte-americano Charles Field e os britânicos Charles Bright e os irmãos John e Jacob Brett fundaram uma empresa para lançar o primeiro cabo submarino telegráfico intercontinental.
No ano seguinte, dois navios, um britânico e um americano, transportaram 2.500 milhas náuticas (4.630 km) de cabo, partindo da Irlanda. O cabo se rompeu quanto já haviam sido lançados cerca de 750 km. Nova tentativa foi feita em 1858 e novo rompimento ocorreu quando somente 250 km haviam sido lançados.
Ainda em 1858 houve uma terceira tentativa. Essa foi bem sucedida, os navios partiram do meio do Atlântico e atingiram portos em lados opostos sem nenhuma ocorrência de rompimento. A mensagem "Glory to God in the highest, and on Earth, peace, good will to men". foi enviada.
Esse sucesso teve, porém, curta duração, pois poucas semanas depois desse pioneiro sucesso, o cabo por problemas das voltagens utilizadas veio a falhar. Somente 8 anos depois garantiram-se operações confiáveis nessa comunicação entre América do Norte e Europa.
Mergulhador checando um cabo submarino de dados |
O que há por dentro de um cabo de dados submarino
Quando os cabos submarinos não estão sendo espionados pelos EUA ou cortados por criminosos, eles têm que lidar com algumas condições bem adversas. A água salgada de alta pressão não faz bem a nenhum link de comunicação – e nem deslocamentos geológicos e outras atividades abaixo do mar.
Por isso, a fibra óptica que permite assistir a vídeos de gato armazenados no outro lado do mundo é fortemente reforçada, para garantir que falhas de internet sejam uma exceção, e não a regra.
A fibra óptica é envolta em vaselina, e fica dentro de finos tubos de cobre ou alumínio. Eles são cobertos por policarbonato, e então por uma barreira de alumínio, que impede a entrada de água. Ao redor dela, ficam os grossos cabos de aço que você vê na imagem acima; por sua vez, eles são envoltos por um filme poliéster boPET. Tudo é então coberto por uma camada externa de polietileno.
1 – polietileno; 2 – filme boPET; 3 – cabos de aço; 4 – alumínio; 5 – policarbonato; 6 – tubo de cobre ou alumínio; 7 – vaselina; 8 – fibras ópticas
Ou seja, passando dentro do aço, polímero e cobre, algumas fibras de vidro preciosas levam os dados de um continente para outro. Em geral, os cabos têm 69 mm de diâmetro, e cada metro pesa 10 kg.
Toda essa proteção pode parecer exagero, mas realmente vale a pena: quando um cabo submarino foi danificado em Mianmar no início deste ano, a velocidade de acesso à internet no país caiu instantaneamente.
Um dos navios usados para instalar esses cabos |
Cabos Submarinos no Brasil
No Brasil, o primeiro cabo submarino fez parte da primeira linha telegráfica brasileira. Foi inaugurado em 1857 e interligava a Praia da Saúde no Rio de Janeiro com a cidade de Petrópolis. A linha tinha extensão total de 50km, sendo 15km em cabo submarino.
Os primeiros cabos totalmente submarinos foram inaugurados por D. Pedro II em 1874, interligando o Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Belém. A linha Recife, João Pessoa, Natal foi estabelecida em 1875. A primeira ligação internacional por cabo foi feita no mesmo ano, com Portugal, tendo sido concluída por meio de contrato com a empresa British Eastern Telegraph Company.
A ligação com a Europa foi resultado do espírito empreendedor de Irineu Evangelista de Souza, Barão e depois Visconde de Mauá, que participou da organização e financiamento da instalação do cabo submarino.
Em 1893 a companhia inglesa South American Cables Ltd instalou um cabo submarino em Fernando de Noronha. Posteriormente, em 1914, a concessão deste cabo foi transferida para a França. Um segundo cabo submarino em Fernando de Noronha foi lançado pelos italianos da Italcable em 1925.
Principais Cabos Submarinos com presença no Brasil
AMERICAS II
O cabo submarino Américas II entrou em operação em setembro de 2000, interligando o Brasil (Fortaleza) aos Estados Unidos. Resultado de um consórcio formado por diversas operadoras internacionais (Embratel, WorldCom, Sprint, CANTV, entre outras), opera com a tecnologia SDH (hierarquia digital síncrona), que permite que o sinal seja transmitido e recebido com sincronização.
Com 9.000km de extensão, quatro pares de fibras óticas e capacidade de transmissão de 80 Gbps, o Américas II interliga o Brasil, a Guiana Francesa, Trinidad e Tobago, Venezuela, Curaçao, Martinica, Porto Rico e Estados Unidos. O Américas II tem a capacidade de transmitir 151.200 ligações simultâneas e possui 8 lambdas em cada par de fibra, com uma velocidade de 2,5 Gbps por lambda.
O Americas I segue o mesmo caminho do Americas II (Brasil, Trinidad & Tobago, Porto Rico e Estados Unidos). Foi inaugurado em setembro de 1994 e sai de Fortaleza rumo à Flórida.
ATLANTIS-2
Este cabo submarino pertence a um consórcio internacional formado por 25 grandes empresas de telecomunicações e que representam as maiores operadoras de telecomunicações do mundo. Exigiu recursos da ordem de US$ 370 milhões. Setenta por cento do empreendimento foi feito pelas operadoras Embratel, Deutsche Telecom, Telecom Itália, STET-France Telecom, e Telefonica de Espanha.
Com cerca de 12 mil quilômetros de extensão e em operação desde o inicio de 2000, liga o Brasil (de Natal até o Rio de Janeiro) à Europa, África e América do Sul. O cabo possui dois pares de fibras óticas sendo um utilizado para serviço e o outro para restauração.
É o único cabo submarino transatlântico que interliga diretamente a América do Sul à Europa. A capacidade atual deste cabo é de 20 Gbps, sendo a sua capacidade final prevista de 40 Gbps. Possui 8 lambdas no par de serviço, com uma velocidade de 2,5 Gbps por lambda.
Utilizando a infra-estrutura do Atlantis 2, a Embratel implantou ainda, para seu uso exclusivo, dois pares adicionais de fibras óticas com capacidade de 40 Gbps, entre Fortaleza e Rio de Janeiro.
Através do cabo submarino Atlantis 2, o Brasil participa da rede digital que conecta os cinco continentes e que será composta pela interligação de 73 sistemas de cabos de fibras óticas, totalizando uma extensão de 385 mil quilômetros. Esta rede irá formar a infra-estrutura global da sociedade da informação.
EMERGIA – SAM 1
O cabo submarino SAM 1 da Emergia é um sistema construído pela Telefónica S.A., que investiu US$ 1,6 bilhão na sua realização. Ele interliga as três Américas por meio de cabos que somam 25 mil quilômetros de extensão. Possui quatro pares de fibras óticas, 48 lambdas em cada par de fibras, com uma velocidade de 10 Gbps por lambda o que lhe garante uma capacidade de transmissão final igual a 1,92 Tbps.
Diferente dos outros cabos submarinos que tocam o Brasil, o SAM 1 é um anel óptico que circunda as Américas através dos oceanos Atlântico e Pacífico. Ele é auto-restaurável o que permite garantir maior qualidade, velocidade e segurança ao tráfego de voz e dados entre as principais cidades do continente.
Devido ao emprego da tecnologia DWDM (Dense Wavelength Division Multiplexer), o circuito pode ser restabelecido caso haja interrupção em algum trecho do cabo submarino. Assim, a informação percorre o caminho inverso, já que o anel possui capacidade de auto-restauração para reagir a possíveis falhas em menos de 300 milissegundos, sem queda de transmissão.
A capacidade inicial do cabo da Emergia que entrou em operação em fevereiro de 2001 é de 40 Gbps, expansível até 1.92 Tbps. Os serviços de comunicações de banda larga permitem a conexão porta a porta, na América Latina, América Central e os Estados Unidos, atendendo ao Brasil, Argentina, Chile, Peru, Guatemala, Porto Rico e Estados Unidos.
No Brasil, o cabo interliga as cidades de Santos, Rio de Janeiro, Fortaleza e Salvador. Além disso, um dos centros de operação em rede mundial da Emergia (eNOC) localiza-se na cidade de Santos, Brasil.
GLOBAL CROSSING - SAC
Em operação comercial desde o início de 2001 o SAC da Global Crossing teve um custo estimado da ordem de US$ 2 bilhões. O cabo submarino tem 15 mil quilômetros e interliga os principais países da América do Sul, Central e Norte (Brasil, Argentina, Chile, Peru, Panamá e USA).
O SAC é um anel óptico auto-restaurável que circunda as Américas através dos oceanos Atlântico e Pacífico. Esta configuração garante ao sistema uma qualidade que permite o fornecimento de um serviço em alta velocidade com qualidade e segurança entre as principais cidades do continente.
Em sua configuração final, o SAC terá quatro pares de fibras ópticas, 32 lâmbdas em cada par de fibras, com uma velocidade de 10 Gbps por lambda o que lhe garantirá uma capacidade de transmissão final igual a 1,28 Tbps. A capacidade inicial do cabo SAC é de 40 Gbps.
GLOBENET/360 NETWORK
Recentemente adquirida pela Brasil Telecom, o cabo da Globenet entrou em operação comercial no início de 2001. Diferente dos cabos da Emergia e da Global Crossing o da Globenet não circunda as Américas. Seu anel se fecha pelo próprio Atlântico interligando os Estados Unidos, as Ilhas Bermudas, a Venezuela e o Brasil. No Brasil os pontos de entrada são as cidades do Rio de Janeiro e de Fortaleza.
Com 22,5 km e 303 repetidores, o cabo da Globenet terá em sua configuração final 4 pares de fibras ópticas, 34 lâmbdas em cada par de fibras, com uma velocidade de 10 Gbps por lambda o que lhe garantirá uma capacidade de transmissão final igual a 1,36 Tbps. A capacidade inicial do cabo SAC é de 40 Gbps.
UNISUR
Inaugurado oficialmente em 1 de novembro de 1994, o sistema de telecomunicações UNISUR interconecta os países do Mercosul, Argentina (La Plata), Brasil (Florianópolis) e Uruguai (Maldonado).
Resultado de um consórcio formado pelas operadoras internacionais Embratel, Antel (Uruguai) e Telintar (Argentina), compõe-se de um cabo submarino de fibra ótica com 1.741 quilômetros de extensão, 10 repetidores e 15.120 canais. Permite o tráfego de todos os tipos de meios de comunicação, como televisão, telex, telefonia, dados, etc.
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