Há um ano Marissa Mayer, então musa do Google, largava a gigante de buscas para se arriscar no Yahoo!. A tarefa não era fácil: o descrédito da marca no mercado, a baixa moral dos funcionários e o peso da vida pessoal – ela estava grávida de seu primeiro filho – eram grandes empecilhos. Mas, doze meses depois, é possível afirmar que ela desempenhou um bom papel.

Não ia ser um trabalho fácil, muito menos instantâneo. Marissa Mayer já sabia de tudo isso quanto topou assumir o posto de CEO do Yahoo, empresa que já tinha passado pelas mãos de quatro outros CEOs e não engrenava de jeito nenhum.

Com o descrédito na marca e a temerosidade do mercado de que uma mãe com um filho praticamente recém-nascido desse conta de tirar o Yahoo da pindaíba, Mayer tem se saído bem. O grande feito, reconhecido por boa parte da mídia e do mercado, foi o de melhorar a percepção da marca e, junto com ela, levantar o moral dos funcionários. O Vale do Silício tem hoje uma visão diferente da empresa, que transmite mais esperança do que desprezo. “Não é mais envergonhador trabalhar no Yahoo”, teria dito recentemente um funcionário ao Wall Street Journal.

Compras

Outra grande sacada foi usar o dinheiro arrecadado pelas companhias do grupo, como a varejista online Alibaba, para aquisições estratégicas.

Financeiramente, o Yahoo se mantém em alta de 73%, capitaneada principalmente por outros investimentos da empresa, em especial aqueles das corporações asiáticas que fazem parte do grupo, como o gigante do ecommerce chinês Alibaba e o Yahoo Japão. Isso ofereceu lastro pra que Marissa saísse às compras – foram adquiridas 16 startups, entre elas o agregador de notícias Summly, o criador de enquetes GoPollGo, e o Tumblr, plataforma que custou a “bagatela” de 1 bilhão de dólares e que traz mais de 150 milhões de blogs para o guarda-chuva roxo do Yahoo.

Parece maluquice, mas pensa só: a chegada de um público bastante jovem, que vem junto com a compra do Tumblr, contrasta (e equilibra) a audiência atual do portal, que tem em média 45 anos ou mais, de acordo com estudos da Susquehanna Financial Group.

Além disso, as equipes altamente focadas e motivadas das startups que agora fazem parte do grande grupo Yahoo trazem um novo fôlego pra uma equipe que estava desanimada a ponto de precisar que fossem cortados certos benefícios, como o home office, pra voltarem a se tornarem produtivos.

Liderança

A controversa decisão de encerrar o trabalho remoto no Yahoo e a posterior chegada de comidas grátis, smartphones distribuídos largamente e até pulseirinhas fitness pra incentivar a atividade física dos colaboradores, no fim das contas, ajudaram a reestruturar a cultura corporativa da empresa. Não resolve o problema, mas dá uma força para criar uma atmosfera de cooperação e bem estar – o que, para uma companhia que estava decadente, até que caiu muito bem.

Foi preciso um chacoalhão pra que os funcionários fossem novamente motivados a produzir, se empenhar e pensar em como ajudar a tirar o Yahoo da lama. E o resultado é perceptível tanto pela equipe do RH quanto para quem vê de fora. “Mais pessoas estão se aplicando para vagas no Yahoo e mais funcionários estão ficando”, destaca um porta-voz da empresa, que ainda frisa que a taxa de saídas de colaboradores caiu pela metade no último ano.

Ou seja, quem pegou a geração Marissa Mayer está mais crente que a empresa tem futuro, e quem está de fora está interessado em fazer parte dessa mudança. No site Glassdoor, que mede a satisfação dos funcionários, o Yahoo agora aparece com a sua maior pontuação dos últimos 5 anos.

Manter os talentos, tirar os mais malandrinhos da zona de conforto e trazer pra equipe um bom grupo de gente empolgada e empenhada em crescer, seja com novas contratações, seja com a incorporação de equipes das startups adquiridas, é a parte que conseguimos ver, até agora, do plano de retomada do sucesso no Yahoo.


No primeiro ano de casa, Marissa ainda iniciou um dos principais projetos do Yahoo!: redesenho dos apps da companhia. O maior objetivo da executiva era transformar a empresa em uma organização móvel. Com isso, ela se focou em modernizar o acervo de aplicativos, que incluem o Yahoo Mail, Sportacular e o app geral do Yahoo!. Os resultados iniciais mostraram que Marissa está no caminho certo.

Uma pesquisa da Onavo Inc revelou que, em junho deste ano, 16% dos usuários de iPhone contavam com um app do Yahoo!, contra 8% no mesmo período do ano anterior. Ao incluir o Tumblr nesta conta, a porcentagem subia para 22%. Os números estão bem atrás dos concorrentes, como Google e Facebook, presentes em 69% e 80% dos aparelhos da Apple, mas, ainda assim, demonstram um belo aumento.

Resultado trimestral

No geral, os resultados financeiros do Yahoo! tem sido bons, apesar de ainda não atenderem às expectativas de acionistas. Os números do segundo trimestre fiscal de 2013 apontam leve redução de receitas e alta nos lucros.

Durante os últimos três meses, que se encerraram em 30 de junho, a empresa faturou US$ 1,1 bilhão, o que representa uma queda de 7% em relação ao mesmo período do ano passado, e lucrou US$ 137 milhões, uma alta de 150% se comparado a 2012.

A empresa destacou quedas em receitas na área de publicidade da empresa, onde o valor caiu em 12% de um ano para o outro, e no setor de buscas, onde o valor arrecadado caiu em 9%. Como pontos positivos, a empresa destacou "a aceleração do ritmo de inovações", com o lançamento de novos produtos e serviços para diversas plataformas.

Os papéis da empresa, que fecharam o dia em uma baixa de 1,68% sofreram nova queda durante o after-market de cerca de 1,45%, sendo trocados a US$ 26,45. No entanto, durante o ano de estreia de Marissa, as ações da companhia aumentaram mais de 55%.

Mais desafios a longo prazo

Limpar a casa e organizar a bagunça faz parte do começo do trabalho de Marissa. Ela deixou claro, desde o início, que existe um grande plano, que com certeza leva mais de um ano para ser executado, para trazer o Yahoo de volta aos titãs digitais.

Primeiro, é preciso ter talentos no time, mantendo quem está ou recrutando novos funcionários, se necessário. O segundo passo é fazer com que a talentosa equipe desenvolva ótimos produtos; tá aí o redesign do Flickr pra provar que sim, é possível melhorar. O terceiro e último passo seria uma consequência dos dois primeiros – com bons produtos também vêm uma melhor audiência, o que completa os 3 pilares que podem fazer com que o Yahoo dê a volta por cima.

O primeiro aniversário de Marissa no cargo de CEO do Yahoo mostra que ainda há muito o que fazer. Podem ser detalhes, como aquela limpa nos logins do serviço, ou medidas mais complexas, como incorporar um serviço como o Tumblr sem amendrontar os usuários. O que não se pode negar é que ela tem feito muito mais pelo Yahoo do que os seus quatro antecessores no cargo conseguiram fazer.

Quem acompanha o cenário está apreensivo e esperançoso pelo que o Yahoo virá a se tornar nos próximos anos. Muitos anseiam por ver o portal brilhar novamente, mas os próximos meses de Marissa precisarão ser mais efetivos em demonstrar isso numericamente – o mercado está de olho, aguardando por resultados positivos mais sólidos do que a satisfação dos funcionários.

Assim como não se deve julgar um livro pela capa, não se pode julgar o esforço de Marissa apenas pelos resultados dos primeiros 12 meses dela como CEO. O que dá pra perceber é que o esforço inicial é mais vagaroso, porque pressupõe mudar muitas coisas já arraigadas, como a cultura corporativa, a motivação da equipe e o foco da empresa. Particularmente, acho que ela tem mostrado que consegue dar conta do recado – desagrada a alguns, incomoda a outros e até leva o pequeno Macallister ao escritório, se for preciso.


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